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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Quem não ganha é burro


Técnico bom é o que ganha. Aos torcedores de futebol no Brasil o que importa são as vitórias do seu time. E se o gol não sai logo, já começam a esbravejar chamando o treinador de burro, os dirigentes de incompetentes, e o presidente do clube de coisas ainda piores.  Reclamam das substituições que foram feitas, reclamam das que deixaram de ser efetivadas, reclamam da arbitragem, dos auxiliares, dos gandulas, da bola, da torcida, de tudo. Muitas vezes brigam até entre eles mesmos. Mas em contrapartida, não dá mais para ver uma partida com tranquilidade. Lá nas arquibancadas do campo, como fiz durante toda a minha vida.
Ontem vi pela TV São Paulo x Atlético Paranaense. Minhas decepções se acumularam. Não consigo entender como pode desandar, de uma hora pra outra, como num passe de mágica, uma equipe que parecia entrosada e mostrava um futebol de boa qualidade, até com alguma segurança.  Não acho que o Aguirre tenha culpa pelo que vem acontecendo no segundo turno. Mas a torcida não quer saber. Começa logo a chamar o técnico de burro.
Poucos são os que pensam e levam em consideração fatores que podem não ser de seu conhecimento para justificar o comportamento da equipe. Como a aplicação pessoal do atleta nos treinamentos, sua maior adaptação ao esquema utilizado, seu espírito de equipe, o fato de estar descansado para ser mais rápido nos passes e permitir puxar os contra-ataques com maior efetividade; suas reações positivas ou negativas no caso de uma substituição de ordem tática.
Outras vezes o jogador, na ânsia de participar do jogo, esconde um problema físico que o impediria até de ser relacionado para participar da partida. Isto é mais freqüente do que se pensa.
Não se pode esquecer que uma substituição feita sem critério pode desmotivar o atleta, desvalorizar o patrimônio do clube, gerar a desconfiança do elenco.
Mas o técnico sabe disso. Um técnico consciente não vai fazer substituições apenas para satisfazer seu ego. Se a substituição não dá resultado, ele é o primeiro burro a ser substituído.
Quando o time está ganhando, esses problemas deixam de existir. Tudo se transforma num mar de rosas. A bola bate na trave e entra; o juiz erra a nosso favor; os jogadores não são expulsos nem se machucam, e todo mundo passa a sorrir e a elogiar o técnico.
Quando desanda a perder tudo se complica. E o primeiro sintoma é a perda da confiança própria. A bola chega e sai como se fosse uma batata quente. Os passes para traz e para os lados aumentam de forma impressionante na ordem inversa dos acertos; aumenta o número de cartões amarelos e de expulsões, e as contusões são mais freqüentes.
Quando o medo de errar se instala no espírito do grupo, é preciso estar esperto para que o time não role ladeira baixo como uma bola de neve.
Mas o mesmo técnico burro de hoje, pode se tornar um gênio amanhã. Basta ganhar um título ou algumas partidas importantes. Temos visto isto acontecer com todos eles. Perguntem ao Luxemburgo, Felipão, Leão, Tite, Mano Menezes, Muricy, Cuca, Abel Braga, Dorival Júnior, Renato Gaúcho e os que chegaram depois.