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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ROTEIRO DA FAMÍLIA “SAMPAIO” - ENTRE SÃO PAULO e MINAS



  • ANO DE 1919 – 31 DE MAIO, casamento de JOÃO E ELIZA, que recebeu de seu padrinho, como presente de casamento, um CARTÓRIO DE NOTAS. (Naqueles tempos a competência desses cartórios era globalizada. REGISTROS DE NASCIMENTO, ÓBITOS, CASAMENTOS, REGISTRO DE IMÓVEIS, etc. Não custa informar que tanto a família de JOÃO, como a de ELIZA, eram compostas de fazendeiros falidos. A vó MARIQUINHA, quando abandonou a FAZENDA DO SEGREDO, em Brasópolis−MG e foI morar com uma de suas filhas casadas, levando seus nove filhos pequenos, assumiria um grande risco, caso não encontrasse do outro lado um suporte à altura do seu problema. Tio Juca era dos poucos fazendeiros que não estavam insolventes. Ela acreditava no que fazia, e viveu para contar sua luta de... 105 anos. Do outro lado, na família do JOÃO, da região de ARARAQUARA, São Paulo, havia muitos fazendeiros, inclusive meu avô, José Bernardino do Amaral Sampaio, em grave situação financeira. Morreu ao tentar apartar uma briga em uma de suas fazendas. A maioria dessas fazendas foi sacrificada em razão da quebradeira resultante dos estragos produzidos pela primeira GRANDE GUERRA MUNDIAL – 1914-1918. Especialmente nos anos 20/30.

JOÃO e ELIZA dirigiam o Cartório. Passavam tempo integral entre escrituras, assentamentos variados, e coisas que iam aparecendo. Tudo era novidade e muitas vezes tinham de recorrer aos conselhos do padrinho de ELIZA, que na qualidade de JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO GLÓRIA e chefe político da região era quem dava a última palavra. INCLUSIVE EM ASSUNTOS PESSOAIS. João realizava também os trabalhos externos, exercendo com muita frequência as funções de escrivão de polícia. Nasceram ali os três primeiros filhos do casal.

  • NO ANO DE 1920 NASCEU A MARIA DA GLÓRIA;
  • NO ANO DE 1921 NASCEU A ZÉLIA;
  • NO ANO DE 1923 NASCEU O RUY.
Esse estado de coisas, acima mencionado, feria demais a altivez de JOÃO, que sentindo impossibilitado de ser ele mesmo, começou a beber e jogar cartas, deixando o Cartório praticamente nas mãos de ELIZA.

  • ANO DE 1925 Perderam o cartório e mudaram para IBITINGA.  Ali morava o tio Alcides, que os recebeu de braços abertos, não só pelo desemprego do irmão, mas pelo fato de o Ruy estar muito doente, e a mãe estar esperando outro filho. Tio Alcides era político militante, farmacêutico e Coletor Federal.  Promovido no serviço público, mudou-se para a capital do Estado para assumir o novo cargo, e o irmão (quem sabe?) sentindo-se desamparado, e com mais um filho no colo, mudou-se para Bauru, ali do outro lado do Rio Tietê. Foi nesse ano que eu nasci. Eu ia me esquecendo. NO DIA 07 DE DEZEMBRO. Ainda em IBITINGA.
  • NO ANO DE 1926 (provavelmente nasceu e morreu a Guaraciaba). Sepultada nas proximidades do túmulo de RODRIGUES ALVES, um ex-Presidente da República velha, na cidade de Bauru. − NO ANO DE 1927 – Aquele clássico e famoso telegrama: “Eliza fugiu, segure os filhos”. Nessa ocasião o desespero havia invadido a alma de ELIZA.
  • NO ANO DE 1928 – Nasceu à segunda GUARACIABA, com muitos probleminhas de saúde, e alguém sugeriu que o nome fosse mudado por ser desaconselhável repetir o nome de alguém que morreu.  Minha mãe aceitou o conselho e solicitou a mudança para Therezinha. Mas não adiantou nada. Desorientada com os acontecimentos, principalmente porque estava grávida de novo, voltamos para OURO FINO.
  • NO ANO DE 1929 – Nascia o WELLINGTON naquela casa da Rua Bueno Brandão, ao lado da antiga AGÊNCIA DOS CORREIOS. Em seguida estoura as REVOLUÇÕES DE 30 E 32, que foram os anos da crise mais violenta que o BRASIL já teve que enfrentar.  Além dos problemas que atormentavam o mundo, tínhamos aqui, na porta de nossas casas, violentos combates entre paulistas e mineiros matando irmãos inocentes, principalmente paulistas – que lutavam praticamente sozinhos contra as forças de Getúlio na REVOLUÇÃO DE 1932. Nossa família grande se dividiu ao meio, e o movimento lá fora se tornava cada vez mais hostil contra os paulistas, e meus pais resolveram acionar o tio Alcides novamente para retornar. Eu tinha já sete anos e me lembro bem, logo depois que voltamos e o JUCA, cunhado de Tio ALCIDES, me levantando sobre o muro para ver os “bombardeios” dos teco-tecos “inimigos”.  
  • NO ANO 1933 – NASCEU A LOURDES, ´a R. Piratininga, 219, (Ao lado do parque D. PEDRO II). Com todos esses problemas, tio ALCIDES resolveu fugir da confusão reinante na cidade grande e comprar a FAZENDA PAULISTA, nas proximidades de Piracicaba. Alguns poucos anos de muita alegria e felicidade. Ali nasceu a EVA, filha ardentemente desejada por eles durante tantos anos. Logo a seguir, porém, nossos sonhos começaram a trazer tristezas. Doenças misteriosas atacavam os animais, as plantações eram dizimadas pelas geadas, pelas secas, ou pelos insetos. Não se produzia nem se colhia nada. SECA, EXCESSO DE CHUVA, GEADAS, INSETOS, DOENÇAS MISTERIOSAS, DESÂNIMO GERAL.
  • COMEÇO de 1934 – Diante de tantos problemas, um beco sem saída. --- Era morrer abraçado de um lado, ou saltar do avião sem para−quedas.  --- ARRISCAMOS. Voltamos para Minas Gerais e novamente fomos recebidos com abraços e beijos. JOÃO foi contratado como guarda−livros do tio Juca, e fomos morar na Fazenda das Areias.
  • NO ANO DE 1935, Nasceu JOSÉ GILBERTO, que nos deixou naquele ano mesmo em virtude de doença não diagnosticada.
  • NO ANO DE 1937 – Nasceu a IRANY, ainda nas AREIAS.
  • EM 1940, Já em OURO FINO, nasceu a MARIA ELISA, encerrando o ciclo.

Este apanhado tem por objetivo mostrar como são tortuosos os caminhos da vida em todos os tempos, todos os lugares, quaisquer que sejam os motivos. O que não se deve fazer é perder a esperança. A LUTA SÓ TERMINA QUANDO ACABA − dizia famoso lutador de boxe.

São Paulo, 11 de janeiro de 2020.
GSS